Max Stahl: o repórter que mudou o destino de Timor-Leste

The Max Stahl Audiovisual Archive Center of East-Timor

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Confira na crônica desta semana do correspondente do Programa Português da Rádio SBS em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Em dezembro de 1975, 20 meses depois do 25 de abril, as ex-colónias portuguesas tinham proclamado a independência. 


O acordo com o PAIGC levou a que a República da Guiné Bissau fosse ratificada por Portugal – logo 4 meses e meio depois da revolução dos cravos – independência reconhecida em 10 de setembro de 1974.


No verão quente de 1975, em junho, foi Moçambique. Em julho, primeiro Cabo Verde, depois São Tomé e Príncipe.

Processos pacíficos e festivos.


Em 11 de novembro – foi Angola –  dramático crepúsculo do colonialismo português – com terrível prolongada guerra civi.

Faltava – naquele ano 75 – o caso longínquo de Timor-Leste, tão negligenciado plea política de Lisboa.


Em 28 de novembro de 1975 – a Fretilin avançou e proclamou a República Democrática de Timor-Leste.


Mas, a potencia regional, a imensa autoritária vizinha Indonésia do general Suharto estava há uma década implacável a eliminar tudo o que parecesse afloramento marxista.


A Fretilin tinha a etiqueta de marxista.


A Indonésia decidiu ocupar Timor-Leste.

O grande repórter português Adelino Gomes foi testemunha, relatou para a RTP, em circunstancias dramáticas o começo da invasão indonésia por Balibó e Maliana, uma equipa australiana com 5 repórteres foi morta – temeu-se por Adelino Gomes – que no entanto com o apoio de um missionário português – escapou e após 3 dias de caminhada chegou a Dili.


A invasão – por exército poderoso e enorme - foi imparável, a Indonésia proclamou que Timor era a sua 27ª província – mas a ONU nunca reconheceu a ocupação, manteve Timor como território em descolonização – e dentro de Timor – a resistência foi sempre lutadora – valente.


Apesar de a questão timorense – continuar secundária na agenda internacional - não obstante alguns esforços portugueses.

Uma das iniciativas foi – a de uma visita de deputados portugueses a Timor-Leste (ocupado pela Indonésia), prevista para outubro de 91 – 15º ano da ocupação indonésia. Não chegou a haver visita – Djacarta impediu-a.


Mas a resistência timorense – levantou-se em protestos contra essa proibição. As forças indonésias reprimiram o protesto e um jovem, Sebastião Gomes, 18 anos – foi abatido – dentro da igreja de Motael na marginal de Dili.


A revolta timorense – perante mais esta crueldade – cresceu. Foi convocado um cortejo de protesto – para 12 de novembro daquele 91, a seguir à missa de 7º dia – marcha da resistência timorense até ao cemitério de Santa Cruz – onde Sebastião estava sepultado.


A participação foi enorme – mais de duas mil pessoas – a maioria jovens, muitos com símbolos da Fretilin.


Logo no começo dos 3km e meio de percurso perceberam que havia agentes dos intel, os serviços secretos indonésios infiltrados na marcha – houve um incidente, um desses agentes foi esfaqueado – mas a marcha continuou.

Quando a cabeça do desfile chegou ao cemitério – e quando os primeiros colocaram flores sobre a campa começou o massacre.


Militares indonésios que estavam encobertos num outro cemitério logo ao lado – avançaram por Santa Cruz a disparar sobre a multidão e a esfaquear sobreviventes - crueldade tremenda.


Desta vez – a matança não podia ser negada. Porque houve um valente repórter que, escondido atrás da capela, filmou tudo - 15 minutos de massacre.


O nome dele é Christopher Wenner, tinha então 36 anos, britânico, profissão: repórter de guerra.


Ele teve consciência de que a tropa indonésia o iria apanhar – por isso, recolhidas as imagens mais eloquentes escondeu a cassete, enterrou-a debaixo de uma campa.


Christopher Wenner, na noite seguinte voltou ao cemitério, desenterrou a cassette, o video chegou a Londres, passou na BBC – e de imediato entrou por écrans de todo o mundo.


A indignação tornou-se mundial – a questão de Timor-Leste subiu ao topo da agenda internacional - prioridade atestada pelo Nobel da Paz de 96 para Jose Ramos Horta e para o bispo Ximenes Belo – ou seja para a corajosa luta do povo de Timor, o que fez o mundo tomar consciência da continuada atrocidade praticada pela Indonésia em Timor-Leste foi aquele documento – aquele filme com 15 minutos de massacre – tudo filmado pelo corajoso Christopher Wenner.

De facto – ele é conhecido por Max Stahl – a identidade que usou para se movimentar por Timor ocupado.


Max Stahl, tinha sido repórter de guerra em El Salvador, nos Balcãs  - mas escolheu viver por Timor - nunca deixou o combate pela liberdade e pelo desenvolvimento democrático de Timor-Leste.

A doença levou-lhe a vida ao começo da noite num hospital da Austrália.


É um herói de Timor – sem ele – o mundo não teria aberto os olhos para aquela opressão – e para que a ONU impusesse o referendo que levou a independência.



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