Casal brasileiro em Gold Coast perde metade do patrimônio da empresa devido às enchentes na região

Lucas enchente

Lucas, marido de Claudia, com água até a cintura na descida para a garagem do prédio onde moram, que alagou até o teto danificando carros e objetos. Source: Supplied

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Other ways to listen

Claudia e Lucas vendem salgados em Gold Coast há cinco anos. Equipamentos de trabalho e uma van emprestada estavam na garagem do prédio onde moram, que em meia hora encheu de água até o teto na madrugada de segunda-feira devido às fortes chuvas locais. "Fiquei em choque, chorei muito, mas passado um tempo me emocionei com toda a ajuda que recebemos da comunidade brasileira", declarou Claudia.


Entre as pessoas que tiveram seus negócios afetados pelas fortes chuvas e enchentes dos últimos dias nos estados de Queensland e Nova Gales do Sul está o casal de brasileiros Lucas Mancio e Claudia Ortiz que produzem e vendem salgados em Gold Coast.
Claudia e Lucas
O casal de brasileiros Lucas Mancio e Claudia Ortiz, que mora em Gold Coast e teve metade do patrimônio da empresa de salgados perdido pelas enchentes. Source: Supplied
A garagem do prédio deles, que fica no bairro de Tugun, encheu de água até o teto na madrugada de segunda-feira e lá estavam o carro deles e uma van emprestada com todo o equipamento que eles usam para vender os salgados em eventos. Eles contabilizaram um prejuízo de cerca de A$15 mil. 

Claudia conta que foi tudo muito rápido. "A gente recebeu um mensagem de alerta do governo na noite de domingo, como já recebemos outras vezes, avisando sobre as fortes chuvas. Meu marido então desceu na garagem para ver a situação dos bueiros, que estavam ralos, tanto na rua quanto na garagem. Por isso não nos preocupamos." 

"Em meia hora a água subiu até o teto" 

O casal então foi dormir por volta da meia-noite com o cuidado de manter as janelas abertas para ouvir caso a chuva aumentasse muito. Eles acordaram às 2h30 da manhã com o barulho dos vizinhos. Já era tarde demais. A água tinha subido até o teto da garagem e não era mais possível tirar os carros ou objetos guardados lá.
carros submersos
Carro e van submersos na garagem do prédio onde Claudia e Lucas moram, no bairro Tugun, em Gold Coast, depois das fortes chuvas de domingo para segunda-feira. Source: Supplied
"O nosso vizinho do andar de baixo falou que foi o último a tirar o carro dele da garagem, antes de alagar, às 2h da manhã. Em meia hora a água tomou conta de tudo e não foi mais possível ter acesso à garagem, que fica no subsolo do prédio", relata Claudia.
Em meia hora a água tomou conta de tudo e não foi mais possível ter acesso à garagem, que fica no subsolo do prédio.
Claudia também conta que só na terça-feira à tarde o caminhão-pipa chegou para tirar a água da garagem do prédio, já que muitas casas e edifícios da região foram afetados e havia uma fila de espera para conseguir o serviço. 

"Mick Fanning nos ofereceu ajuda" 

O prédio onde Claudia e Lucas moram fica no bairro de Tugun, em Gold Coast, próximo a um córrego e perto de um morro, o que facilitou com que a água da chuva chegasse rapidamente até lá e inundasse a garagem subterrânea.
Mick Fanning
O surfista australiano Mick Fanning, um dos melhores do mundo, mora perto do prédio do casal, também teve a casa alagada e ofereceu ajuda a Claudia e Lucas. Source: AAP Image/Supplied by World Surf League, Matt Dunbar
Claudia conta que Mick Fanning, surfista australiano e um dos maiores nomes do surfe mundial, mora na rua de trás do prédio dela, e que a casa dele também alagou. "Ele inclusive se ofereceu para ajudar a tirar o nosso carro dali de baixo quando a gente conseguir secar a água. Ele é incrível, muito humilde. Ele mesmo estava tirando a água da casa dele".
Ele (Mick Fanning) se ofereceu para ajudar a tirar o nosso carro da garagem quando a gente secar a água. Ele mesmo estava tirando a água da casa dele.
Segundo Claudia, em cinco anos morando nessa região e nesse mesmo prédio, ela e o marido nunca tinham visto nada parecido. "Os vizinhos disseram que em 2011 teve uma enchente muito grande e que aconteceu algo parecido. Mas a gente nunca viu nada igual, nem aqui e nem em lugar nenhum". 

Prejuízo de cerca de A$15 mil 

Ao falar sobre o prejuízo que tiveram, Claudia diz que ela e o marido calcularam algo em torno de A$14 mil a A$16 mil, pois na hora da enchente, estavam na garagem o carro deles, que eles não chegaram a contabilizar pois tem seguro, uma van emprestada por um amigo que não tem seguro, além de todos os objetos e equipamentos que eles usam para vender os salgados em eventos, na barraca que eles montam, como gazebo, estufa alugada, gerador, refrigeradores, banners, mesa, entre outros.
Claudia e Lucas na barraca
Todo o equipamento usado para montar a estrutura da barraca de salgados que Claudia e Lucas montam em eventos estava na garagem que ficou totalmente alagada. Source: Supplied
Ao falar do sentimento que teve quando viu o que tinha acontecido, Claudia diz que ficou em choque. "Eu não conseguia nem falar. Fui conseguir chorar só à tarde. A gente ficou sem dormir das 2h30 manhã até as 22h porque a gente ficou tentando resolver as coisas, conversando com a síndica do prédio para trazer o caminhão-pipa e poder tirar a água dali."
(Quando vi a garagem alagada até o teto) Eu não conseguia nem falar. Fui conseguir chorar só à tarde.
Ajuda através de encomendas

Foi então que um amigo do casal perguntou como podia ajudar e se eles queriam que ele organizasse uma 'vaquinha' para arrecadar dinheiro para eles cobrirem os custos do prejuízo. Claudia falou pra ele que não tinha perdido o material principal de trabalho, que são as máquinas de fazer os salgados, os refrigeradores e as fritadeiras, que ficam no apartamento. 

"O que eu disse para ele foi que eu prefiro ajuda através do nosso trabalho. Então se o pessoal pudesse encomendar salgadinhos com a gente, nós produziríamos o máximo que pudéssemos para atender essa demanda e conseguir levantar pelo menos metade desse dinheiro."
Eu disse para ele (amigo que sugeriu 'vaquinha') que prefiro ajuda através do nosso trabalho. Então se o pessoal pudesse encomendar salgados com a gente, nós produziríamos o máximo possível.
E é o que está acontecendo. Foram feitas algumas publicações nas redes sociais em grupos de brasileiros em Gold Coast e outras cidades de Queensland, e eles já estão recebendo várias encomendas por conta disso.

"A gente está recebendo não só encomendas mas também doações dos nossos clientes, que são maravilhosos. E assim que eu conseguir, vou parar para agradecer a cada um. Mas eu já quero aqui agradecer a todos porque a gente está recebendo ajuda de conhecidos mas também de pessoas que nunca vimos." 

Gratidão

Por toda essa ajuda que estão recebendo, Claudia conta que apesar do susto e do choque pela perda súbita que sofreram, "a gente acordou hoje (dia seguinte ao alagamento) com muita gratidão no nosso coração. É incrível a solidariedade do nosso povo."
Acordamos (no dia seguinte ao alagamento) com muita gratidão no nosso coração. É incrível a solidariedade do nosso povo.
E teve gente ajudando na prática também, como um amigo que é mecânico e emprestou um carro, amigos que se ofereceram para limpar a garagem, os carros e equipamentos depois da retirada da água, amigas que se juntaram na produção dos salgadinhos, já que o número de encomendas não parou de crescer, e o amigo dono da van que, além de levar a Claudia ao supermercado para fazer compras, disse que eles deveriam primeiro se preocupar com os prejuízos que tiveram dos próprios bens e só depois resolver a questão da van. 

Claudia ainda destaca o apoio emocional que os pais dela estão dando à distância nesse momento difícil. "Meu pai e minha mãe estão falando com a gente direto desde que tudo aconteceu. Eles estão dando a maior força possível e a nossa força vem deles". 

Auxílio financeiro do governo

Sobre a possibilidade de receber algum tipo de auxílio do governo, já que muitas pessoas estão na mesma situação que eles e foram diretamente afetados pelas fortes chuvas e enchentes nos estados de Queensland e Nova Gales do Sul, Claudia diz que ela e o marido já deram entrada no pedido de um pagamento emergencial que é de A$1 mil por pessoa, e que estão aguardando a resposta.
A contadora deles, que também é brasileira e segundo Claudia ajuda muita gente da comunidade, está verificando se o governo vai oferecer algum tipo de auxílio financeiro para empresas afetadas pelas enchentes. 

Ao final da conversa, Claudia se mostra otimista. Ela diz que "a esperança é a última que morre e a gente está bem confiante de que as coisas vão se reverter e que a gente vai conseguir, se não tudo, pelo menos uma grande parte do valor que a gente teve de prejuízo. Agora é trabalhar. Trabalhando a gente vai conseguir tudo de volta, com certeza."
Agora é trabalhar. Trabalhando a gente vai conseguir tudo de volta, com certeza.

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